ARTIGO 3 da Natureza dessa Revelação
ARTIGO 3
Da Natureza dessa Revelação
As
Escrituras Sagradas foram escritas por homens santos, inspirados por Deus, de
maneira que as palavras que escreveram são as palavras de Deus. Seu valor é
incalculável e devem ser lidas por todos os homens.
1 2
Pedro 1.19-21; 2 Timóteo 3.16; 2 Romanos 3.1,2; Salmo 19.7-10; 3 Isaías 34.16;
Lucas 16.29; João 5.39.
Esboço
do comentário: 1. A autoria de homens santos 1.1 A teoria da inspiração natural
ou dinâmica 1.2 A teoria da inspiração mecânica ou ditada 1.3 A inspiração
verbal-plenária 2. Um livro de valor incalculável 3. Um livro para todos os
homens Já afirmamos, ao comentar o Artigo 2, que além de Se revelar pela
criação, Deus o fez também pela Palavra. No Artigo que ora comentamos, há conceitos
distintivos a respeito da natureza desta Revelação.
1.
A autoria de homens
santos
A
expressão "Sagradas Escrituras" se aplica, com justiça, à Palavra de
Deus. Não só por causa de Deus, a Quem elas revelam, manifestando a Sua vontade
e os Seus mandamentos, mas também pela dignidade do assunto que tratam em
relação a nós, e ainda pelos instrumentos que Deus tem usado para produzi-las.
"Escritura" deriva do latim, scribo, significando aquilo que foi
escrito. O termo é usado no singular e no plural. "Escritura"
encontramos em Marcos 12.10; Lucas 4.21, e "Escrituras" em Mateus
22.29; Marcos 12.24. O singular refere-se a uma passagem particular (At 8.32) e
o plural refere-se ao todo (Mt 21.42). Outro nome usado é "Bíblia",
palavra que vem do latim, e significa livro. Procede, por sua vez, do plural
grego biblia, de biblion, que é diminutivo de biblos. Há duas explicações possíveis
para a origem da palavra: 1') Biblos ou Bublos originalmente podia significar a
planta do papiro e depois tirinhas do casco interior desta planta, que
primitivamente foram usadas como papel para escrever. Depois passou a designar
um livro. 2') Biblos é derivado de Byblos, cidade costeira de Canaã de 2.000 a
700 a.C., onde julga-se ter originado o alfabeto. Há ainda os nomes: "Sagradas
Letras" (2 Tm 3.13-16), e "Palavra de Deus" (Mc 7.12-13; Lc
11.28; Hb 4.12), que também fazem referência ao caráter do Livro. Os termos que
nomeiam as duas principais divisões das Escrituras, Antigo e Novo Testamento,
passaram a ser utilizados do século II para cá. Eles derramam luz sobre o tema
do Livro: "Testamento", no caso, não tem o sentido usual de "últimas
disposições", mas, antes, de aliança, concerto, contrato (cf. Jr 31.31,32;
Lc 22.20; 1 Co 11.25; 2 Co 3.6,14).
O Antigo Testamento contém a aliança que Deus estabeleceu com o Seu povo, antes da vinda de Jesus. O Novo Testamento compreende a nova aliança estabelecida com a humanidade por meio de Jesus Cristo. A Bíblia tem confirmado, através dos séculos, sua unidade e preeminência. É o livro por excelência. Sobrepuja a todos os demais livros quanto à sua autoridade, antiguidade, literatura e popularidade, muito especialmente pelo fato de revelar a verdade concernente a Deus, Sua justiça, Seu amor, como também o pecado do homem e sua salvação. Deus separou homens — "santos" significa "separados" —para escreverem a Revelação (2 Pe 1.19-21). A eles foi dada experiência pessoal com a verdade. Eram homens idôneos, aos quais Deus confiou a missão de registrarem a Sua Palavra. Nenhum deles entregou palavra "sua", mas aquela que sabiam ser a Palavra de Deus. Isto é o que os teólogos chamam de natureza antrópica da Revelação: "...homens falaram da parte de Deus". Eram pessoas de várias condições, situação, experiência e cultura diferentes, e não foram arrebatados do seu tempo nem alienados da história. Muitos conviveram com os povos aos quais, primeiramente, Deus Se fez revelar. Durante séculos os livros iam sendo escritos (por cerca de 1.400 anos), sem que seus autores fizessem, antes, o planejamento de uma obra inteiriça. Tais homens foram "inspirados por Deus". O conjunto dos seus 66 escritos formam um só livro. Desde o Gênesis ao Apocalipse corre um veio, ligando, relacionando, desenvolvendo, relatando e unindo, dentro de uma grande sequência doutrinária, o pensamento de Deus. Ele é o verdadeiro Autor, pois que dEle, pelo Espírito, veio a origem eficiente do que escreveram os homens a quem escolheu. Eles falaram "movidos" pelo Espírito Santo (2 Pe 1.19-21). "Toda a Escritura é inspirada por 1) eus" (2 Tm 3.16). Assim, os escritores sagrados estiveram sob influência sobrenatural do Espírito. Inspiração é, portanto, a abra do Espírito Santo, na pessoa particularmente escolhida para ser veículo dos pensamentos divinos, que garante a transmissão infalivelmente correta da verdade.
O Antigo Testamento contém a aliança que Deus estabeleceu com o Seu povo, antes da vinda de Jesus. O Novo Testamento compreende a nova aliança estabelecida com a humanidade por meio de Jesus Cristo. A Bíblia tem confirmado, através dos séculos, sua unidade e preeminência. É o livro por excelência. Sobrepuja a todos os demais livros quanto à sua autoridade, antiguidade, literatura e popularidade, muito especialmente pelo fato de revelar a verdade concernente a Deus, Sua justiça, Seu amor, como também o pecado do homem e sua salvação. Deus separou homens — "santos" significa "separados" —para escreverem a Revelação (2 Pe 1.19-21). A eles foi dada experiência pessoal com a verdade. Eram homens idôneos, aos quais Deus confiou a missão de registrarem a Sua Palavra. Nenhum deles entregou palavra "sua", mas aquela que sabiam ser a Palavra de Deus. Isto é o que os teólogos chamam de natureza antrópica da Revelação: "...homens falaram da parte de Deus". Eram pessoas de várias condições, situação, experiência e cultura diferentes, e não foram arrebatados do seu tempo nem alienados da história. Muitos conviveram com os povos aos quais, primeiramente, Deus Se fez revelar. Durante séculos os livros iam sendo escritos (por cerca de 1.400 anos), sem que seus autores fizessem, antes, o planejamento de uma obra inteiriça. Tais homens foram "inspirados por Deus". O conjunto dos seus 66 escritos formam um só livro. Desde o Gênesis ao Apocalipse corre um veio, ligando, relacionando, desenvolvendo, relatando e unindo, dentro de uma grande sequência doutrinária, o pensamento de Deus. Ele é o verdadeiro Autor, pois que dEle, pelo Espírito, veio a origem eficiente do que escreveram os homens a quem escolheu. Eles falaram "movidos" pelo Espírito Santo (2 Pe 1.19-21). "Toda a Escritura é inspirada por 1) eus" (2 Tm 3.16). Assim, os escritores sagrados estiveram sob influência sobrenatural do Espírito. Inspiração é, portanto, a abra do Espírito Santo, na pessoa particularmente escolhida para ser veículo dos pensamentos divinos, que garante a transmissão infalivelmente correta da verdade.
Surgiram
algumas teorias errôneas a respeito da inspiração, que podem ser contrastadas
com a verdade sobre tal natureza, à luz da própria Bíblia. O ato inspirador não
está plenamente explicado em parte alguma das Escrituras. Deus não revelou
nelas o modus operandi, a maneira de operar da inspiração. Nesta obra, como em
toda a ação do Espírito Santo, há um elemento profundamente misterioso, o que,
aliás, é razoável, pois de outro modo não seria ela o trabalho do Espírito. As
teorias surgidas são apenas tentativas para explicar a dupla autoria das
Escrituras, isto é, o modo pelo qual o Espírito Santo atuou nos escritores
humanos.
1.1
A inspiração natural ou dinâmica.
Esta
defende que a inspiração não é senão um desenvolvimento mais alto da
compreensão da verdade, compreensão essa que todos os homens possuem em maior
ou menor grau. Como tem havido artistas excepcionais, músicos e poetas
extraordinários, os quais têm produzido obras de arte não superadas, assim têm
surgido homens de introspecção invulgar nas coisas espirituais, que produziram
livros religiosos, tais como os Vedas, o Alcorão, a Bíblia etc. Esta espécie de
inteligência é considerada um produto das próprias capacidades do homem, sem
qualquer influência divina. Segunda tal teoria, os escritores da Bíblia não
eram mais inspirados que Camões, Shakespeare, Maomé ou Confúcio.
REFUTAÇÃO:
Enfatiza o lado humano, com a exclusão do divino. Contradizendo-a, afirmamos
que a inspiração da Bíblia difere, tanto em grau como em espécie, da inspiração
natural. Posto que houve artistas, poetas, cientistas, filósofos e religiosos
de grande envergadura, encontram-se erros nas obras de todos eles. Se essa
fosse a inspiração da Bíblia, seria ela sujeita aos erros que caracterizam
todas as obras humanas, pois em questões morais e religiosas, o conhecimento
humano é viciado pelo pecado. Sem uma iluminação vinda de fora, o homem erra e
leva outros a errarem (Nm 12.6-8; 1 Co 2.10,11). Faz da verdade moral e
religiosa coisa puramente subjetiva, uma questão de opinião particular, negando-lhe
a realidade independente das opiniões humanas a respeito delas. Não reconhece,
pois, a existência de um Deus pessoal que é Verdade e a revela ao homem, privilegiando
a sua inteligência.
1.2
A teoria da inspiração mecânica ou ditada. Esta sustenta que a inspiração
consiste em o Espírito Santo apoderar-se das mentes e dos corpos dos escritores
da Bíblia de tal forma, que eles se tornaram meros instrumentos passivos,
escrevendo ipsis verbis o que Ele ditou.
REFUTAÇÃO:
REFUTAÇÃO:
a) A
dessemelhança de estilo, a diversidade de interesse, as peculiaridades
pessoais, distinguem um autor do outro. Isso não aconteceria se o Espírito
Santo tivesse ditado a Bíblia. Veja-se 2 Pedro 3.15-16; Romanos 9.1-3 e a
inscrição da cruz (Mt 27.37; Mc 15.26; Lc 23.38; Jo 19.19).
b) O
pensamento é inseparável da linguagem. Inspirando o profeta, o Espírito Santo
estimula a sua mente e o dirige em tudo, a fim de que ele não só pense, mas
diga por escrito o que está pensando. Ditar não é inspirar. O homem que dita
para um estenógrafo, não o inspira.
C).
É contra o método divino de relações com os homens ditar-lhes o que eles não
sabem. Nesse caso, anularia a sua livre agencia, ao invés de usá-lo. Esta
teoria enfatiza a autoria (divina, excluindo a humana.
1.3
A inspiração verbal-plenária
Este
é o ensino bíblico quanto à inspiração. Por "verbal" entendemos que
as palavras das Sagradas Escrituras foram dadas pelo Espírito Santo aos seus
escritores; que estes não I oram deixados absolutamente a sós, na escolha das
palavras, mas na sua seleção foram divinamente dirigidos. Todavia, a autoridade
humana foi respeitada, a ponto de serem preservadas as características de
estilo e o vocabulário empregado, sem, contudo, permitir a inclusão de erros.
Isso, aliás, vem refutar a ideia de que inspirado foi o conceito e não as
palavras.
a)
Conceito: Por "plenária" entendemos que a Escritura é plena e
igualmente inspirada em todas as suas partes. É infalível quanto à verdade, e
final quanto à sua autoridade divina. Não só contém, mas é a Palavra de Deus.
Contestasse-se, assim, a concepção de que a Bíblia seja inspirada apenas em parte.
Temos de acrescentar, porém, que está infalibilidade verbal só se aplica aos
manuscritos originais, chamados autógrafos.
Embora
a doutrina da inspiração, por si, não exclua a possibilidade de erro na
reprodução literária do texto, ainda, em realidade, a Providência Divina tem
preservado as Sagradas Escrituras no que diz respeito à sua substância. Isto
foi confirmado pela descoberta de uma cópia de Isaías, que em nada diverge do
atual texto, não obstante o fato de que aquele é mil anos mais velho do que Este.
Devido aos avanços da ciência linguística e arqueológica, e o desenvolvimento
do criticismo textual, é opinião dos eruditos que a presente geração possui a
mais perfeita aproximação dos autógrafos, que jamais tem sido feita até hoje na
história humana. Os estudiosos estão certos de que se todos os manuscritos
fossem descobertos, muitos pouco divergiriam dos textos atuais. Se eliminássemos
todas as passagens duvidosas do Antigo Testamento, isto não afetaria nem sequer
um fato histórico ou um ensino doutrinário. No Novo Testamento que hoje
possuímos temos, 999 vezes em 1.000, a mesmíssima palavra do original.
Que
valor tem este fato, se não temos os originais? Que necessidade há de se
insistir numa fonte infalível? As próprias Escrituras se arrogam uma fonte
inerrante, despida de erro. A honra de Deus está em jogo. Damos honra a Deus ao
dizermos que Ele nos deu uma revelação de Si mesmo e da Sua vontade, revelação
esta isenta por completo de erros. Dizendo o contrário, desonramos a Deus.
b)
Observações gerais sobre a inspiração verbal-plenária: A palavra
"inspiração" não é bíblica, propriamente. Aparece uma só vez no Novo
Testamento (2 Tm 3.16), na forma verbal "inspirada", na edição
Revista e Atualizada. Em outras versões aparece na mesma forma, duas vezes (2
Tm 3.16 e 2 Pe 1.21). Mas a verdade que esta palavra representa é doutrina
bíblica. O ensino acerca da inspiração, como das demais doutrinas da Bíblia
(justificação, eleição etc.), é produto da revelação divina. Cabe-nos apenas
aceitar este testemunho como nos é dado.
Em
lugar nenhum a Bíblia afirma, explicitamente, ter sido escrita por homens
inspirados. Nenhum escritor se declara, a si mesmo, inspirado. Mas a Bíblia
insiste em que as palavras que eles proferiram e escreveram eram de Deus. A
inspiração não afetou todos os atos da vida dos escritores. Muitas vezes eles
tiveram caracteres defectivos. Salomão é um exemplo disso. Erraram, como nos é
dito a respeito de Moisés (Nm 20.10-12); de Davi (2 Sm 24.10); de João (Lc
9.54,55); e de Pedro (Gl 2.11-14). Os escritos foram inspirados, embora os
homens não fossem infalíveis.
Como
a pessoa de Cristo, nosso Salvador, a Bíblia é teantrópica (divina-humana) em
seu caráter e em seu alvo. Nela, o divino e o humano mantêm uma relação
semelhante à que existe na pessoa de Cristo: não se misturam, ainda que sejam
inseparavelmente unidos e constituam apenas uma vida, que gera vida no coração
daquele que crê. Deus e o homem cooperam para a produção das Escrituras.
A
Bíblia é toda inspirada, mas não toda do mesmo modo:
·
Há partes em que a revelação
divina cooperou com a inspiração, dando-nos verdades que estavam além da
compreensão humana. Exemplos: Salmo 22, os livros proféticos etc.
·
Às vezes foi concedida
iluminação ao escritor, às vezes não.
·
Em outras partes, os
autores escreveram segundo o seu conhecimento pessoal, sua experiência e as
informações colhidas de documentos existentes. Exemplos: os livros históricos e
moitas partes do Pentateuco. Eles foram inspirados na escolha desse material.
·
E em outras mais, o
Espírito apenas se responsabiliza pela autenticidade e fidelidade do incidente,
asseverando que de fato se passou. Neste caso, há apenas inspiração de superintendência.
O Espírito não aprova o pensamento ou o ato; só garante que o registro dele é
fiel. Nessa classe de passagens estão as mentiras, as ações e ensinos de
Satanás, as conclusões errôneas do homem natural, como as que se encontram no
livro de Eclesiastes (2.16; 3.19; 9.2-10 etc).
c)
Bases bíblicas: A inspiração verbal plenária baseia-se principalmente em dois
versículos: 2 Timóteo 3.16 e 2 Pedro 1.21. Esses dois textos são
complementares. Um fala do lado divino da inspiração, o outro, do lado humano.
Juntos provam a autoria teantrópica das Sagradas Escrituras.
2
Timóteo 3.16: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil..." Neste
versículo temos a procedência, o proveito e o propósito das Sagradas
Escrituras. Examinemos algumas partes dele:
Escritura
— Que é uma escritura? Essa palavra (no original grafê) ocorre cinquenta e uma
vezes no Novo Testamento, das quais trinta e uma designa uma passagem ou
passagens do Antigo Testamento (cf. Mc 12.10; Lc 4.21; At 8.32), e pode ser
mesmo uma afirmação (1 Tm 5.18). Há vinte outras referências, onde significa a
Escritura como um todo (cf. Jo 10.35; Cl 3.22 etc.). Concluímos que
"Escritura" é qualquer porção da Palavra de Deus. Pode ser um livro,
uma passagem ou apenas uma parte de um versículo.
Toda
Escritura ou Cada Escritura — Refere-se só ao Antigo Testamento? Sim, fala do Antigo
Testamento, como nos mostra o contexto, mas também inclui o Novo Testamento.
Deve ser lembrado que 2 Timóteo foi a última epístola que Paulo escreveu e um
dos últimos livros do Novo Testamento. Pedro chama "escritura" aos
escritos de Paulo (2 Pe 3.2,16). Em 1 Timóteo 5.18 Paulo chama
"escritura" a Deuteronômio 25.4 e Lucas 10.7, sendo essa última da
pena de um gentio. Inclui-se em "toda Escritura" tudo o que tinha
sido ou haveria de ser revelado aos apóstolos, segundo o propósito soberano de
Deus.
É Onde
devemos colocar, nesta passagem, o verbo ser: antes ou depois da expressão
"inspirada"? Notemos, em primeiro lugar, que o verbo não está no
original. É subentendido.
O
tradutor tem que intercalá-lo. Há, entretanto, leis de sintaxe na língua grega
que determinam a posição deste verbo, o que significa que ele não pode ser
colocado arbitrariamente na oração. Deve aparecer depois de "Escritura",
e antes de "inspirada". Por quê? Vejamos a razão:
Uma
lei da sintaxe grega reza assim: Quando vêm juntos dois adjetivos ou modificadores
(adjunto predicaaativo composto) modificando um substantivo, não é possível
separá-los por um verbo. No caso presente, os dois adjetivos são
"inspirada" e "útil". Não se pode colocar entre eles um
verbo. Concorda-se, pois, que em 2 Timóteo 3.16 deve-se ler: "Toda
Escritura é inspirada por Deus e útil..."
Passemos
agora a considerar a expressão inspirada por Deus, que no original é
theopneustos — Este termo foi cunhado por Paulo com duas palavras: theos (Deus)
e pneu (sopro). Não se encontra uma vez sequer a utilização desse vocábulo, em
literatura grega, e no Novo Testamento só aparece aqui. theopneustos denota que
toda a Escritura vem do sopro de Deus. Não indica, porém, como Deus operou para
produzi-la. () nosso vocábulo "inspiração", que significa
"introduzir o ar em", é um tanto infeliz. A palavra grega aqui
tratada não salienta se o sopro divino entrou no homem; indica apenas que Ioda
a Escritura foi produzida pelo sopro criativo do Todo-1 Poderoso (S133.6) e que
deve a sua origem à atividade de Deus, o Espírito. É, no sentido mais puro, a
criação dEle. Sem sopro, não há sílaba; sem sílabas não há palavras; sem
palavras não há livro e sem livro não há religião.
2 Pedro 1.19-21 é o outro texto. Completa 2 Timóteo 3.16. Este último
afirma que Deus foi a fonte de toda a Escritura e se ela se originou com Ele,
sendo, portanto, a Sua Palavra. Já 1º Pedro 1.21 indica que Deus operou em
homens santos, com o fito de transmitir, por meio deles, um relatório infalível
do pensamento. As duas passagens se encadeiam.
No
texto fala-se da "palavra profética", da "profecia da Escritura"
e da "profecia". Estes termos não se limitam às porções proféticas da
Bíblia, pois um profeta deve apresentar fielmente a mensagem de Deus, e esta
não se limita a vaticínios.
Ele
era o portador, e não o originador da sua mensagem. Veja-se Jeremias 1.17 e
Ezequiel 2.7. Neste sentido, todos os escritores do Antigo Testamento foram
chamados profetas (At 3.21; 10.43). Portanto, cada "profecia" em
Pedro equivale a cada "escritura" em Paulo. Afirma Pedro que a profecia
não foi dada por vontade humana. A fonte das Escrituras não é o homem, mas
Deus. Diz também que "homens falaram da parte de Deus movidos pelo
Espírito Santo". A palavra do original traduzida aqui por "mover"
é pitoresca. Lembra uma barca a vela, soprada pelo vento, um objeto levado pela
correnteza de um rio. Os escritores foram assim tomados pelo Espírito Santo e
conduzidos pelo Seu poder para uma finalidade de Sua escolha. O mover do
Espírito é mais do que uma simples direção ou controle. É uma ação forte sobre
os escritores, de modo a fazê-los falar a mensagem do Espírito, e não a deles,
e apresentá-la inteiramente fidedigna. Que Ele o fez, é evidente. Mas como o
Espírito Santo realizou tal obra sem destruir as características pessoais do
autor, é segredo que só Deus conhece. A nós cabe crer no que é asseverado a
respeito, como cremos na revelação, sem, contudo, entendê-la plenamente. Lembremo-nos,
entretanto, que embora a operação do Espírito Santo tenha tocado nas palavras,
estas não foram ditadas diretamente aos ouvidos dos autores. A operação
consistiu em produzir, na mente deles, ideias e pensamentos tão claros e
vívidos, que eles facilmente podiam achar as palavras adaptadas para
expressá-los devidamente. O ensinamento das Escrituras a respeito da inspiração
nas passagens acima, pode ser resumido como segue: homens santos de Deus,
qualificados pela efusão do sopro divino, escreveram em obediência à Sua ordem,
e, destarte, foram preservados de todos os erros, quer revelando verdades
dantes ignoradas, quer registrando verdades já conhecidas. Neste sentido,
"toda a Escritura foi dada por inspiração divina". A Bíblia é,
deveras e em verdade, infalível; a infalível Palavra de Deus, e seus livros são
de origem e autoridade divina.
2. Um livro de valor incalculável
Tudo
o que na Palavra está escrito é proveitoso ou útil (cf. 2 Tm 3.16). Deus
confiou aos homens a Sua Palavra, a fim de que dela se utilizassem para o seu
próprio bem. O quanto de benefício a Palavra nos traz? Davi enumera alguns, no
Salmo I 9.7-10.
Uma
das provas do valor incalculável das Escrituras é a sua preservação. A
sobrevivência da Bíblia através dos séculos dificilmente seria explicada, não
fosse ela a Palavra de Deus. Os livros, como os homens, morrem. Poucos duram
cem anos. () caso da existência da Bíblia torna-se mais incrível quando se
considera que ela é o único livro no mundo que tem resistido, época após época,
à. mais feroz e incessante perseguição. Século após século, os homens têm
tentado queimá-la e enterrá-la. Cruzadas e mais cruzadas se organizaram no
intuito de exterminá-la. Tudo em vão. Só podemos explicar a sua sobre-vivência,
admitindo-a como obra de Deus. Veja-se Salmo 119.89; Mateus 5.18; 24.35; 1
Pedro 1.23,25.
Também
se demonstra o inefável valor das Escrituras devido ao seu poder transformador
(1 Pe 1.23). A Bíblia é o único Livro que regenera o homem.
A
inesgotabilidade das Escrituras é também evidência do seu incalculável valor.
Sua profundidade é infinita. Infinita é, igualmente, a sua altura. Por épocas,
milhões de leitores e escritores têm cavado esta mina inesgotável, e seus
recursos profundos permanecem insondáveis. Século sobre século ela tem gerado,
com um poder criador sempre crescente, ideias, planos, temas e livros. Os
volumes escritos sobre simples capítulos e mesmo sobre versículos poderiam
encher as estantes de muitas bibliotecas. Entretanto, os tesouros ainda por
descobrir são como as estrelas semeadas no espaço — uma legião infinita.
3.
Um livro para todos os homens
A
Bíblia é um livro universal. O Deus cuja mensagem ela revela é o Senhor de toda
a terra e de todos os homens. O problema de que a Escritura trata é problema de
todos, e a solução que apresenta para o problema é oferecida a todos. Esta é a
razão por que somos exortados a buscar a Palavra do Senhor (Is 34.16). Não há
outro livro que Deus use como instrumento para conduzir à salvação (Lc 16.29)
nem outra escritura que encaminhe o homem para a vida eterna (Jo 5.39).
A
universalidade das Escrituras se nota em sua adaptabilidade. É o único livro,
em todo o mundo, que é lido por todas as classes e categorias de pessoas. Os
demais livros, se são filosóficos ou científicos, prendem a atenção dos
intelectuais; se são infantis, são apreciados pelas crianças. É maravilhoso o
fato de existir um livro que difere de todos os demais, neste sentido; um livro
que é lido pela criança e também pelo ancião à beira da eternidade. Sendo para
homens de todos os tempos, é inegável sua perpétua atualidade. Não é uma
maravilha que este livro tenha curso hoje em dia? Sim, porque o tempo é a maior
prova a que se pode submeter uma literatura. Conhece-se, porventura, algum
livro, dos escritos há mil anos, que seja largamente lido atualmente? A verdade
é que livros que há poucos anos obtiveram fama, estão esquecidos agora. Podemos
ter a certeza de que quanto mais antigo for um livro, menos possibilidade tem
ele de sobreviver, ou de ser lido por povos de diversas nacionalidades.
Mais
ainda: nenhum livro teve, jamais, tanta probabilidade de alargar a sua circulação
além das fronteiras de seu país de origem. O que, porém, mais nos assombra, no
caso da Bíblia, é e ser ela o único livro na terra a transpor as barreiras do tempo
espaço, chegando a fazer-nos esquecer a sua idade, mostrando ser dotado de
eterna juventude. Só a Bíblia, em todo o mundo, tem podido ultrapassar tão
surpreendentemente tais fronteiras.
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