ARTIGO 1Do Testemunho da Natureza Quanto à Existência de Deus

ARTIGO 1

Do Testemunho da Natureza Quanto à Existência de Deus

Existe um só Deus, vivo e pessoa; Suas obras no céu e na terra manifestam não meramente que existe, mas que possui sabedoria, poder e bondade tão vasta que os homens não os podem compreender; conforme Sua soberana e livre vontade governa todas as coisas.

Deuteronômio 6.4; 1 Coríntios 8.4-6; Êxodo 3.14; Jeremias 10.10; 3 Salmo 8.1; Romanos 1.19-20; Salmo 135.6; Romanos 915,16.

Neste primeiro Artigo estão firmadas algumas verdades fundamentais da fé cristã a respeito de Deus. Cada uma de suas declarações é um fundamento.

Deus é único

Admitimos a existência de Deus, e um único Deus. Não nos preocupamos em provar que o Ser divino existe; apenas temos como certa a Sua existência, como a Bíblia o faz. Moisés disse ao povo de Israel que atentasse para essa verdade: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor" (Dt 6.4). A fim de convencer os crentes coríntios quanto à nulidade dos ídolos, o apóstolo Paulo afirmou: “... não há senão um só Deus... todavia, para nós, há um só Deus...” (1 Co 8.4-6). Deus existe. E uma realidade e não um sonho, uma suposição ou um ser imaginário, como são os deuses do paganismo.

A ideia de Deus é uma crença intuitiva. O homem, sendo racional, possui certas ideias inatas, que não se lhe podem ensinar e que ele não pode aprender, mas que suas faculdades racionais reconhecem, e sem as quais sua racionalidade cessaria. Há sete destas ideias inerentes que são fundamentais: número, espaço, tempo, causa e efeito, personalidade, bem e mal, e Deus. Portanto, podemos chamar a crença em Deus de uma Verdade primária ou primordial, que tem de ser tomada como admitida, a fim de se fazer possível qualquer observação ou reflexão. A afirmação de que Deus é único representa, por si só, a negação do politeísmo, que é a crença na existência de mais de um deus. Os cristãos confessam o monoteísmo. Reconhece a existência de um só Deus, Verdade amplamente concebida pelas Escrituras (Dt 6.4; 32.39; 1 Sm 2.2; 2 Sm 7.22; 1 Rs 8.60; 2 Rs 19.15; Sl 18.31; Is 37.16; Mc 12.29-32; ]o 17.3; At 17.24-28; Rm 329,30; 1 Co 84,6; Gl 3.20; Ef 4.6; 1 Tm 2.5).

Há lá alguns argumentos racionais quanto ã existência de Deus. São deduções de filósofos e teólogos. Tais argumentos não provam, por si só, que Deus existe, mas corroboram a nossa crença na existência de um Ser divino:

1°) Argumento Cosmológico (kosmos + logícos) - Uma causa deve haver que tenha produzido o universo. Sendo lógico que cada efeito tem uma causa, conclui-se que o universo (cosmo), que é o efeito, necessariamente tenha uma causa. E a causa de universo tão grandioso é Deus.

O Valor deste argumento consiste em mostrar que existe um Ser, autoexistente, fora do universo e independente dele, sendo ao mesmo tempo suficientemente grande para produzi-lo. O mundo não começou a existir por si mesmo; assim como pregos, madeira e tijolos, por si mesmos, não formam uma casa.

2°) Argumento Teleológico (teleos + logicos) - Este argumento parte do pressuposto de que cada obra tem a sua finalidade. Um desenho implica a existência de um desenhista. Um relógio, a de um relojoeiro. A ordem da natureza é tal, que pressupõe a existência de um agente inteligente, que tenha designado cada coisa para o seu fim (teleos). Esse Ser é Deus (Pv 16.4). O argumento está aplicado no Salmo 949,10: "Será que quem fez o ouvido não ouve? Será que quem formou o olho não vê? Aquele que disciplina as nações as deixará sem castigo? Não tem sabedoria aquele que ao homem dá conhecimento” (NVI).

3°) Argumento Antropológico - Baseia-se na natureza intelectual, moral e volitiva do homem. Conduz à certeza da existência de um Ser pessoal. Se o homem possui natureza moral, isso requer que seu Autor possua natureza semelhante. Só se pode conceber que um Ser, que tenha tanto mente como espírito, seja o Criador do homem. Por sua vez, a natureza moral do homem prova a existência de um Santo Legislador e luz. Somente um Ser dotado de poder, sabedoria, santidade e bondade, e todos esses em grau superior ao do homem, pode satisfazer as exigências da alma humana.

O valor deste argumento está em assegurar a existência de um Ser pessoal, que nos domina em justiça e que é o objeto apropriado da nossa afeição, da nossa adoração e de nossos serviços supremos.

4°) Argumento Ontológico (ontos = particípio presente de ser, no grego + logicos) - A simples concepção universal, pelo espírito do homem, de um Ser real e eterno, constitui uma prova da sua existência.
Pode-se atestar o valor e utilidade destes argumentos com a seguinte afirmação: ...podemos dizer que o argumento cosmológico prova a existência de uma Causa infinitamente grande; o teleológico que essa Causa tem vontade e é inteligente; o antropológico que Ela é pessoal e justa e o ontológico, que é infinita e perfeita, razão por que podemos chama-la DEUS.

Deus é vivo e pessoal

Ele é vivo, não somente no sentido de que possui vida, em contraste com os ídolos, que são deuses mortos, mas também porque é autoexistente (Ex 3.14; Ir 10.10). “Eu sou o que sou” é uma expressão que ressalta a existência eterna e independente de Deus e a Sua autossubsistência. Além de vivo, Deus é pessoal. E um Ser individual, com autoconsciência e vontade, capaz de sentir, escolher e ter um relacionamento recíproco com outros seres pessoais. Quando Ele diz "Eu sou”, demonstra que não é um Ser abstrato, incognoscível (que não pode ser conhecido), ou uma força sem nome. É um ser pessoal, porque possui os elementos que se combinam para formar a personalidade, quais sejam: o intelecto, a sensibilidade e a vontade.

As Escrituras testemunham que Deus é inteligente e onisciente: ”...o seu entendimento não se pode medir” (Sl 147.5); e "todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daque-le a quem temos de prestar contas” (Hb 4.13). Também encontramos na Palavra evidências de que Deus possui sensibilidade. Ele ama a justiça e odeia o pecado, é terno e compassivo:

"Deus é amor” (1 jo 4.16), e se compadece (Sl 103.13). As Escrituras afirmam, ainda, que o Senhor possui vontade, ao dizerem que “no céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada" (Sl 115.3). A esta declaração podemos juntar 0 testemunho de Jesus Cristo, dizendo que a sua comida consistia em fazer "a vontade daquele que me enviou” (jo 4.34). Eis a razão por que a Palavra ensina que nós somos criados "à imagem e semelhança” de Deus (Gn 12. 6,27). Em nos estão presentes as mesmas três faculdades básicas que compõem a personalidade: o intelecto e sensibilidade e a vontade. Em Deus elas são perfeitas em grau infinito, mas em sua natureza encontram semelhança extraordinária nas criaturas pessoais.

Não se pode entender que haja semelhança física entre Deus e o homem, porque "Deus é espírito” (jo 4.24). Quando características de Deus são apresentadas através de elementos humanos, estabelecem-se os antropomorfismos (formas humanas atribuídas a Deus). Diz-se que Ele tem braços (Dt 33.27), mão (]o 10.29), pés (ls 66.1), olhos e ouvidos (2 Cr 7.15) etc.

Tais afirmações não podem ser tomadas como se Deus possuísse tais membros humanos. São figuras de linguagem. Representam o esforço humano para ter a compreensão, ainda que limitada, da natureza e prerrogativas da Divindade.
Afirmando que Deus existe e que é um Ser vivo e pessoal, combatemos três doutrinas errôneas:

a)O ateísmo: a negação da existência de Deus. O ateísta coloca no lugar de Deus a "natureza", como força ou causa da criação.

b) O agnosticismo: a negação da possibilidade de Deus se revelar ao homem, que parte da pressuposição de que este é incapaz de compreendê-lO. É verdade que ninguém possa tendê-lO perfeita e completamente, porém pode adquirir conhecimento ã medida em que Ele mesmo Se revela. E se Ele a Si mesmo se revelou, é porque admitiu a possibilidade de o homem obter essa compreensão.

c) O panteísmo: que decorre da afirmação de que “tudo é Deus". Os adeptos desta doutrina concebem o universo como sendo uma única substância, com dois atributos: extensão e pensamento. Todas as coisas materiais compõem a substância em extensão; e todas as coisas imateriais são a mesma substância, sob a categoria de cognição ou pensamento.

A mais significativa objeção que se pode fazer ao panteísmo é esta: não revela um Deus pessoal, não apresenta solução para 0 pecado humano, não traz qualquer auxílio para a vida nem esperança além da morte.

A criação dá testemunho da existência de Deus e dos atributos divinos O título do Artigo que ora comentamos é "Do Testemunho da Natureza quanto a Existência de Deus”. Testemunhar é dar a conhecer, demonstrar, depor, confirmar. Natureza é todo o universo, compreendendo a totalidade da criação de Deus. Tudo o que Deus criou demonstra a realidade da Sua existência, bem como evidencia Seus atributos ou qualidades pessoais.

3.1 As obras de Deus manifestam que Ele existe Duas passagens são chave para fundamento da revelação geral de Deus por meio da natureza:

Romanos 1.19,20: justificando a aplicação da ira divina sobre os pecadores, Paulo declara que “o que de Deus se pode conhecer" Ele “lhes manifestou”, e acrescenta que a revelação se deu "por meio das coisas que foram criadas”. O conteúdo desta revelação inclui "os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder como também a sua própria divindade”.

Salmo 19.1: O salmista afirma que a natureza manifesta “a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos". Tudo o que Ele criou testemunha de Sua ação criadora.

As obras de Deus manifestam Seus atributos 
Em especial, o Artigo menciona a sabedoria, o poder e a bondade.

Deus possui vasta sabedoria - Além de conhecimento infinito (Sl 147.5), Deus possui sabedoria infinita. Quando age, Ele tem entendimento de todas as implicações e efeitos de Sua ação. Esta é a razão por que Paulo exclamou: "Ó profundidade da riqueza, tanto do conhecimento quanto da sabedoria de Deus..." (Rm 11.33). Tudo fez com sabedoria (Sl 104.24).

Deus possuí vasto poder - Não há limite em Seu poder.

E Todo-poderoso ou onipotente (Gn 17.1; Mc 10.27; Lc 1.37).

Ele pode fazer todas as coisas que sejam dignas e coerentes com a Sua natureza. Isso significa que Ele não pode fazer, de forma arbitrária, qualquer coisa que possamos conceber... Ele não pode fazer círculos quadrados ou triângulos com quatro cantos. Ele não pode desfazer o que aconteceu no passado... Ele não pode agir contra a sua natureza – não pode ser cruel ou insensível?

Deus possui vasta bondade - Ele é a bondade personificada. É um atributo divino que pode abarcar o Seu amor, a Sua graça, a Sua misericórdia e a Sua longanimidade. Os teólogos o incluem como um dos atributos morais de Deus. Quando atribuímos a Deus bondade, a idéia fundamental é que Ele é, em todos os aspectos e por todos os modos, tudo aquilo que deve ser como Deus, e, portanto, Corresponde perfeitamente ao ideal expresso pela palavra 'Deus'. Ele é bom na concepção metafísica da palavra, é perfeição absoluta e felicidade perfeita em Si mesmo? Devido à sua infinita bondade, Deus age de maneira benévola e generosa para com as Suas criaturas. Foi a Sua bondade que tornou possível o perdão dos nossos pecados (Sl l03.8; 2 Co 1.3). A sabedoria, o poder e a bondade divina são “tão vastos” que não os podemos compreender. Está além da capacidade humana a compreensão exata da natureza e do modo como Deus manifesta os Seus atributos (Sl 8.1; Rm 11.33-36).

Entretanto, Ele Se revela através da natureza e por meio dela os homens podem ser levados a reconhecer Sua existência.
Tornam-se indesculpáveis diante dEle quando não o fazem, razão por que ficam sujeitos à aplicação da ira vindicativa de Deus, ou a aplicação de Sua justiça (Rm 1.18).

Deus governa com soberana e livre vontade

O Senhor é soberano. Tudo o que faz decorre da Sua vontade. Ninguém Lhe dá ordens nem Suas ações dependem do bel prazer humano. “Tudo quanto aprouve ao Senhor, Ele o fez” (Sl 135.6). Assim também a salvação dos homens dependeu da livre vontade de Deus em usar Sua misericórdia (Rm 915,16).

Mesmo que não saibamos compreender as razões das obras divinas, é certo que as executa com soberania e propósito. E nada há que esteja fora do Seu governo. Sejam anjos ou demônios, homens bons ou maus, o mundo físico ou o espiritual, a tudo o Senhor dirige com sabedoria, a fim de cumprir o Seu intento.

Sabemos, pois, que a natureza não somente prova, pela sua existência, a realidade dAquele que a criou. Prova também, pela maravilha da criação, pela ordem e pela harmonia das leis que regem o universo, que esse Criador tem inteligência, poder e sabedoria. Foi capaz de planejar, executar e manter as coisas que criou (Jó 12.7-13).

Essa nossa crença representa uma rejeição ao Deísmo, que ensina, como o Teísmo, que Deus é pessoal, infinito, santo, criador do universo, tendo nele impresso as leis que o governam, mas difere deste quando afirma que depois de criar o universo, Deus se retirou dele e o abandonou, deixando-o manter-se numas forças e as leis nele residentes.

Deus preserva e governa o universo. Preservação é a ação divina para sustentar e manter em atividade tudo o que criou.

Nada sobrevive independente de Deus (Ne 9.6; Cl 1.16,17).
Governo é o domínio divino sobre todas as coisas, a fim dc que cumpram o propósito da sua existência. Deus exerce o Seu governo:

a) na natureza física (Sl 104.14; At 14.15-17);
b) na criação animal (Sl 104.21; Mt 6.26; 10.29);
c) nos acontecimentos da história humana (Dn 2.21);
d) na vida da pessoa (1 Sm 2.6; Tg 4.15);
e) nas menores particularidades (Mt 10.30).

Contemplando as coisas materiais ficamos admirados com sua ordem e perfeição. Mas, além das coisas materiais, há a realidade espiritual, há a nossa alma, o nosso espírito. Quem o fez? O Criador deu também origem ao espírito do homem (Gn 2.7; Ec 12.7). O complexo interior do ser humano é obra da Divindade.

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